A publicidade brasileira possui uma história rica e fascinante que reflete as mudanças culturais, sociais e tecnológicas do país ao longo dos séculos. Desde seus primórdios coloniais até o cenário digital contemporâneo, a propaganda desempenhou um papel crucial na construção de marcas, na formação de hábitos de consumo e na definição de comportamentos da sociedade brasileira.
Os Primórdios: Publicidade no Período Colonial e Imperial
A história da propaganda no Brasil remonta ao período colonial, quando os primeiros anúncios eram publicados em jornais locais. A criação do jornal Gazeta do Rio de Janeiro em 1808 marca um ponto importante nessa trajetória, representando o início da publicidade impressa organizada no país.
Nos primeiros séculos, os anúncios eram simples e textuais, voltados para a venda de produtos e serviços essenciais como medicamentos, imóveis e outros bens. A publicidade refletia uma economia agrária e um país ainda em desenvolvimento, com comunicação limitada aos jornais locais e avisos afixados em espaços públicos.
A partir de 1860, surgiram os primeiros painéis de rua, marcando a evolução visual da publicidade brasileira. No final do século XIX, especificamente em 1875, apareceram os primeiros anúncios ilustrados, trazendo uma nova dimensão à comunicação comercial. Em 1898, o jornal O Mercúrio iniciou suas atividades com circulação trimestral, depois diária, dando início à propaganda comercial mais estruturada.
O Século XX: Modernização e Profissionalização
O século XX marcou a verdadeira transformação da publicidade brasileira. Entre 1900 e 1910, os anúncios classificados evoluíram para grandes formatos com ilustrações, e poetas se tornaram os pioneiros redatores de propaganda. Revistas como Revista da Semana, Malho, Fon-Fon e A Careta começaram a circular, elevando o nível da imprensa e da publicidade.
A década de 1910 trouxe figuras marcantes como José Lyra, conhecido como “Homem-Reclame”, que revolucionou a forma de fazer propaganda através de anúncios afixados. Sua abordagem inovadora bateu recordes no Brasil e consolidou novas estratégias publicitárias.
Antes de 1913, não havia no Brasil uma organização especializada em distribuir anúncios para mídia impressa. Essa função era realizada por micro-escritórios publicitários. A primeira agência de publicidade brasileira propriamente dita foi a Castaldi & Bennaton, proprietária da Eclética, instalada em São Paulo entre 1913 e 1914. Em 1930, a agência Ayer se transformou em Thompson, marcando a chegada de agências internacionais ao mercado brasileiro.
A Era de Ouro: Décadas de 1950 e 1960
Os anos 1950 e 1960 representaram a era de ouro da publicidade brasileira. O desenvolvimento econômico e a crescente urbanização impulsionaram um mercado consumidor ávido por bens de consumo, como eletrodomésticos e automóveis. A publicidade adotou uma linguagem mais próxima da cultura popular brasileira, criando conexões emocionais com o público.
A televisão, que se popularizou a partir de 1950, tornou-se o principal veículo de propaganda. Em 1950, Assis Chateaubriand inaugurou a TV Tupi em São Paulo, a primeira emissora de televisão brasileira e da América Latina. Esse marco revolucionou completamente a comunicação publicitária no país.
Os primeiros anunciantes na TV Tupi foram a Casa Clô e Persianas Colúmbia. As campanhas televisivas ficaram mais ousadas, com jingles e slogans memoráveis que ainda hoje são lembrados pelos brasileiros. Surgiram também as primeiras produtoras especializadas em jingles e filmes publicitários.
Inovações e Consolidação do Mercado
Nas décadas seguintes, a publicidade brasileira continuou evoluindo. O rádio, que se popularizou entre as décadas de 1940 e 1950, trouxe novas possibilidades com anúncios sonoros e jingles memoráveis. O cinema também contribuiu para a publicidade através do endosso de celebridades, prática que começou com filmes como “Alô, alô Carnaval” em 1936, com artistas como Carmen Miranda e Oscarito.
A criação da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) marcou a profissionalização do setor. A Embratel iniciou suas atividades como rede nacional de telecomunicações, patrocinando grandes transmissões de TV que impulsionaram ainda mais a publicidade.
Uma das campanhas mais longevas da história da publicidade brasileira foi a “Mil e uma utilidades” da Bombril, que ficou no ar de 1978 a 2013, conquistando um lugar no Guinness Book. O “garoto Bombril”, interpretado pelo ator Carlos Moreno, tornou-se sinônimo da marca e criou uma expressão que entrou para o vocabulário popular brasileiro.
A Transformação Estratégica e Técnica
Com a consolidação da televisão, a publicidade brasileira passou por transformações significativas. A grade de programação criou uma simbiose entre conteúdo e anúncio, tornando a publicidade parte do desenho da programação. Isso possibilitou um planejamento mais técnico, estratégico e previsível, com tabelas de preço e medições de audiência que se tornaram parte do modelo de negócios.
As agências de publicidade brasileiras se aperfeiçoaram através da integração dos setores criativos, foco em ideias adaptadas para diferentes mídias, valorização crescente das equipes de criação e permuta de profissionais entre agências. Essa evolução consolidou o Brasil como um mercado publicitário relevante e criativo.
Conclusão: Um Legado de Criatividade e Inovação
A publicidade brasileira evoluiu de simples anúncios textuais em jornais coloniais para campanhas sofisticadas que marcam a memória afetiva dos brasileiros. Essa trajetória reflete não apenas a modernização do país, mas também a capacidade criativa e inovadora da indústria publicitária nacional.
Do período colonial até os dias atuais, a publicidade brasileira demonstrou capacidade de se adaptar às novas tecnologias e formatos de comunicação, mantendo sempre uma conexão profunda com a cultura e os valores da sociedade. Essa história de transformação continua se escrevendo, agora no ambiente digital, onde novas possibilidades e desafios emergem constantemente para os profissionais de publicidade e marketing do Brasil.
