A publicidade é uma das ferramentas mais poderosas de comunicação e marketing da atualidade. Mas você sabe como ela começou no Brasil? A história da publicidade brasileira é fascinante e repleta de transformações que acompanharam a evolução econômica, social e tecnológica do país. Neste artigo, vamos explorar essa jornada desde seus primórdios até os dias de hoje.
Os Primeiros Passos: O Século XIX
A publicidade no Brasil começou de forma bem modesta. Tudo iniciou em 1808, com a chegada da família real portuguesa e a criação da Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro jornal impresso no país. O primeiro anúncio publicado foi um singelo texto de quatro linhas, onde Anna Joaquina da Silva oferecia uma morada de casas de sobrado com frente para Santa Rita.
Embora o Correio Braziliense, publicado em Londres desde março de 1808, seja considerado oficialmente o primeiro jornal brasileiro, foi a Gazeta do Rio de Janeiro que abriu as portas para a publicidade formal no Brasil, tornando-se o primeiro veículo de divulgação de mensagens publicitárias.
Ao longo do século XIX, a publicidade evoluiu gradualmente. Em 1809, a escravidão tornou-se tema recorrente nos anúncios. Em 1838, surgiram os primeiros anúncios de produtos farmacêuticos importados, como o Elixir de Boubée e o Elixir do Dr. Guillié. Em 1875, chegaram ao mercado brasileiro produtos como Farinha Láctea Nestlé e Emulsão de Scott, marcando o início dos anúncios ilustrados.
O Nascimento das Agências de Publicidade
A primeira agência de publicidade brasileira foi a Empresa de Publicidade e Comércio, fundada em São Paulo em 1891. Essa agência funcionou até 1915 e surgiu para atender a uma demanda crescente de profissionais especializados em escrever e ilustrar anúncios.
No início do século XX, a indústria gráfica passou por uma revolução tecnológica. A litografia e a fotogravura modernizaram a apresentação dos anúncios, abrindo espaço para o lançamento de revistas ilustradas. A Revista da Semana, lançada em 1900, foi a primeira revista desse novo formato, seguida por outras como Malho, Fon-Fon e A Careta.
Entre 1913 e 1914, surgiu a Castaldi & Bennaton, proprietária da Eclética, que é frequentemente citada como a primeira verdadeira agência de publicidade brasileira, com especialidade em distribuir anúncios para mídia impressa.
A Modernização com as Agências Internacionais
A chegada das agências multinacionais americanas foi um marco importante na história da publicidade brasileira. Em 1929, a agência J.Walter Thompson abriu sua filial em São Paulo para atender à conta da General Motors, iniciando um grande processo de modernização da publicidade brasileira.
Em 1935, a McCann Erickson abriu seu escritório no Rio de Janeiro para atender à conta da Standard Oil e sua marca Esso. Essas agências trouxeram novas técnicas, criatividade e procedimentos que inseriram o Brasil no contexto publicitário internacional.
Em 1945, a publicidade se consolidou definitivamente no país. O primeiro Anuário de Publicidade contabilizava 32 agências em funcionamento, e os maiores anunciantes do ano eram RCA Victor, General Electric, General Motors, Pan American World Airways, Philips e Ford.
A Era do Rádio e da Televisão
O rádio se popularizou no Brasil entre as décadas de 40 e 50, trazendo consigo todas as possibilidades da publicidade em anúncios sonoros. Essa foi uma transformação significativa, pois permitiu que as marcas alcançassem o público de forma mais íntima e pessoal.
Mas a verdadeira revolução veio com a televisão. Em 1950, Assis Chateaubriand inaugurou a TV Tupi em São Paulo, a primeira emissora de televisão brasileira e também da América Latina. Isso marcou o início de uma nova era na publicidade brasileira.
Os primeiros anunciantes na TV Tupi foram a Casa Clô e Persianas Colúmbia. Inicialmente, não existiam produtoras especializadas em jingles e filmes comerciais, mas isso mudou rapidamente com a profissionalização do setor.
A Consolidação da Publicidade Moderna
Nos anos 50, o surgimento das revistas ilustradas de grande tiragem deu novo impulso aos anúncios publicitários em cores. Esses anúncios, com seus slogans e refinamento estético, marcaram o início da propaganda moderna no Brasil e abriram caminho para a expansão da televisão.
Em 1928, a revista O Cruzeiro, editada pelos Diários Associados de Assis Chateaubriand, trouxe inovações gráficas, grandes reportagens e ênfase no fotojornalismo, criando uma nova linguagem na imprensa brasileira que beneficiou enormemente a publicidade.
A Revolução de 1932 foi praticamente a implantadora da indústria brasileira moderna. A comunicação moderna começou a trabalhar o público no sentido da valorização do que era autenticamente brasileiro, e a propaganda desempenhou seu papel de espelho dessa transformação.
Campanhas Icônicas e Memória Afetiva
Ao longo das décadas, algumas campanhas publicitárias se tornaram lendárias na história do Brasil. Um exemplo marcante é a campanha “Mil e uma utilidades” da Bombril, que ficou no ar de 1978 a 2013, mais de três décadas. Essa foi a campanha mais longeva da história da publicidade brasileira, conquistando um lugar no Guiness Book e criando uma expressão que entrou para o vocabulário popular.
O “garoto Bombril”, interpretado pelo ator Carlos Moreno, tornou-se sinônimo da marca e criou uma conexão emocional profunda com os brasileiros, demonstrando o poder da publicidade em criar memória afetiva.
A Profissionalização do Setor
Com o tempo, a publicidade brasileira se profissionalizou cada vez mais. As agências integraram setores criativos, focaram em ideias adaptadas para diferentes mídias e valorizaram cada vez mais as equipes de criação. Houve também uma permuta constante de profissionais entre as agências, elevando o nível geral da criatividade e inovação.
Em 1950, surgiu a Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), que começou sem muita função, mas logo se consolidou como representante dos interesses dos grandes anunciantes. Também teve início as atividades de uma rede nacional de telecomunicações, por meio da Embratel, que patrocinou grandes transmissões de TV.
Conclusão
A história da publicidade no Brasil é uma história de inovação, adaptação e criatividade. Começou de forma simples, com um anúncio de imóvel em um jornal, e evoluiu para um setor sofisticado e profissionalizado que influencia a cultura, o consumo e a memória afetiva dos brasileiros.
Da Gazeta do Rio de Janeiro às campanhas icônicas que marcaram gerações, a publicidade brasileira sempre acompanhou as transformações do país. Hoje, em um mundo digital e em constante mudança, a publicidade continua evoluindo, mas suas raízes históricas nos lembram da importância da criatividade, da inovação e da conexão emocional com o público.
Compreender essa história nos ajuda a valorizar a profissão, reconhecer os pioneiros que construíram esse mercado vibrante e entender como a publicidade moldou a identidade cultural brasileira ao longo dos séculos.
